quarta-feira, 31 de outubro de 2018

E é na calada da noite





E é na calada da noite
Que tudo aflora em mim
A vontade de partir
De ir ter contigo
É mais que muita
Abro o peito
Deixo que esta chama 
Que arde dentro de mim
Saia cá para fora
Que encha um balão
Um balão de ar quente
Que me leve até ti
Que me faça atravessar rios
Montes 
Vales
Mares
Que me leve do inferno ao céu
Ou do céu ao inferno
Não importa
Desde que me leve
Que me faça ver-te
Estar na tua presença
Aguento frio
Chuva forte
Calor extremo
Porque o difícil
É estar longe
É não poder cuidar
Por isso parto agora
Vou à tua procura
Na calada da noite escura parto
Para estar ao teu lado ao raiar da aurora

Carlos Santana

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Folhas que já caíram





Folhas que já caíram
A chuva que chega
Que se alia ao frio
Dias de melancolia
Em que estamos assim assim
Nem bem nem mal
Apenas estamos
Pensativos
Introspectivos
Examinando sentimentos
Analisando o nosso íntimo
Recordando momentos
Bons ou maus
Tudo nos passa pela cabeça
Estamos como o tempo
Nem preto nem branco
Cinzentos
Umas horas mais claros
Outras mais escuros
Alturas há em que duvidamos de nós
Que ficamos no limbo
Sem saber para onde ir
Sem saber o que fazer
Só à procura de uma luz
De algo onde nos agarrar
Talvez seja do tempo
Mas há dias assim
Que só queremos ficar quietos
Num canto escuro
Onde nem os sonhos existem
Nem eles lá habitam

Carlos Santana

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Velas enfunadas





Velas enfunadas
Sair do porto 
Aquele porto de abrigo
Que nos mantém seguros
Sair da zona de conforto
Barco carregado
Para aguentar a travessia
Lá longe um outro porto
Um porto onde tu estás 
De braços abertos
De sorriso nos lábios
Tempo nublado
O inverno que se instala
Vem borrasca pela frente
A borrasca da vida
Carregada de vento
Carregada de chuva
Para que se possa dar valor 
Aos dias soalheiros
Onde tudo sabe bem
São estes contrastes
Que nos fazem dar valor
Que nos ensinam 
A não dar nada como garantido
A não dar nada como certo
Uma luta constante
Uma luta diária
Mais do que palavras
São as atitudes que contam
Por isso atravessar o temporal
Para depois saborear a calmaria

Carlos Santana

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Palavras





Palavras 
Mesmo quando ditas com o coração
Vindas cá bem de dentro
Com todo o sentimento
Podem não ter o significado desejado
Podem não ser lidas
Podem ser atabalhoadas
Mas um olhar
Um simples olhar
Diz tudo
Em menos de nada
Eterniza um momento
Vemos a tristeza
O desgosto
A ausência
Mas vemos também o carinho
O orgulho
A sinceridade
O respeito
A alegria
O amor
Não tem como enganar
Guardado num olhar
Está todo o nosso ser
Tudo o que queremos dizer
E infelizmente não conseguimos
E num simples olhar
Podemos ver como estamos vazios
Apenas ausentes
Distantes
Sem pensar em nada
Mas a pensar em tudo

Carlos Santana

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Vida





Vida
O que é
A que sabe
Como é
É vida
É imprevisto
É tristeza
É alegria
É lágrima
É sorriso
Mas acima de tudo
É o que nós queremos
Sim, isso mesmo
Somos nós que mandamos
A vida é nossa
E somos nós que decidimos
Nada de lamentos
Nem tempo perdido
Que seja uma explosão
Uma explosão de mil cores
De mil sabores
Que nos deixe loucos
Inebriados com tanto movimento
Com tanto para fazer
Nada de baixar os braços
Lutar todos os dias
Pelo que nos faz felizes
Pelo que nos sabe bem
É rebentar
É rir até não poder mais
É simplesmente viver

Carlos Santana

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Nada para fazer





Nada para fazer
Nada com que ocupar o tempo
E ele passa
Pastilha elástica entre os maxilares
Vou fazendo balões
Ver até onde os consigo encher
De que tamanho os consigo fazer
Antes que me rebentem na cara
Cada um, um sonho
E eles são tantos
Mas à medida que o tempo passa
Os balões rebentam
E lá se vai mais um sonho
Ou o agarramos e concretizamos
Ou o vemos partir
Continuamos a mastigar
Mais um balão
Desta vez mais pequeno
Para que não rebente
Para que possamos continuar
A saborear
A acreditar
A idealizar
E assim vamos preenchendo o vazio
De não ter nada que fazer
Os olhos postos no horizonte
Outras em bico
A olhar para um balão que cresce
Mais um sonho
Mais uma vontade
Mais uma crença
Será que se realiza
Será que rebenta

Carlos Santana

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Pedra





Pedra
Dura 
Fria
Esquecida
Pontapeada
Usada
Despejada
Enterrada
Assim sou eu
Pedra
Mas um conjunto delas
Que facilita o caminho
Que pisam
Mas que não olham
Usam 
Mas não dão valor
Vêm só a pedra
Não vêm o conjunto
Não vêm o todo
Que está mesmo ali
Debaixo dos pés
O tal porto seguro
Rosa dos ventos
Para que nunca te percas
Para que sempre saibas para onde ir
Ou melhor
Para que sempre saibas onde retornar
Para que nunca percas o norte
Ou simplesmente possas pisar
Sem nunca te magoar
Sou pedra
Mas sou também calçada
Calçada portuguesa
Pronta para tudo

Carlos Santana

sábado, 20 de outubro de 2018

Sabe bem





Sabe bem
De vez em quando
Deixar tudo para trás
Ir até um lugar remoto
Onde ninguém nos encontra
E ficar ali
Parado
Pensativo
Com olhar crítico
Pensar em tudo e em nada
Ver a força da natureza
Em todo o seu esplendor
Ver como a água corre
Não pára
A vontade de mergulhar
De me deixar ir
Ao sabor da corrente
Ver até onde me leva
Até onde posso ir
Sentir a água pelo corpo
Para revitalizar
Para remover o cansaço
Não é fácil ser forte o tempo todo
Ser sempre compreensivo
Às vezes precisamos deste tempo
Onde ninguém nos vê
Onde ninguém nos escuta
E gritamos
Com toda a força
Com toda a alma
Esvaziamos o que está preso
E começamos de novo
Frescos e fofos

Carlos Santana

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

E o tempo passa





E o tempo passa
Páginas e páginas escritas
Daquilo que já fizemos
Do que nos aconteceu
De como nos encontrámos
Por onde passeámos
Palavras sentidas
Palavras vividas
Que ilustram o nosso ser
A vida que já vivemos
Aquele olhar
O abraçar
Levantar no ar 
E apenas rodopiar
O sorriso que nasce
Que cresce naturalmente
Que não pára
Porque não podemos parar
Eu escrevo o que sinto
Escrevo os nossos momentos
Não por medo de os esquecer
Mas para os eternizar
Tudo tão simples
E ao mesmo tempo tão complicado
Mas vivemos
Como sabemos
Como podemos
Um dia depois do outro
Na esperança de um amanhã melhor
Mais suave
Mas mais intenso
Mais calmo
Mas mais ardente
E tudo isso contado nestas simples linhas
Por quem ama e é amado

Carlos Santana

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

São bocados do céu





São bocados do céu
Que vão caindo sobre mim
Pedacinhos de ti
Que tão carinhosamente mandas
Fico aqui sentado
A olhar o azul do céu
A sentir o teu coração
Que tão suavemente cai
Que enche este chão
De um vermelho vivo
Um vermelho  intenso
Um vermelho que bate
E aos poucos
Junto cada pedacinho
Para o sentir nas minhas mãos
Para ver este coração bondoso
Bater com força
Um ribombar que ecoa
Ecoa por todo o lado
Mas principalmente cá dentro
Onde te sinto 
Onde te quero
Olho para cima
Com os olhos carregados de sentimentos
Na esperança de que até ti cheguem
Os lábios entreabertos
Que esperam um beijo teu
Esse beijo que teima em demorar
Mas até lá, junto o teu coração ao meu
Deixo que batam como um
Que sejam o que nós somos
Uma só alma

Carlos Santana

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Força





Força
É tudo o que precisamos
Abraçados a nós próprios
Fechamos os olhos
E de nós para nós
Dizemos que somos capazes
Que tudo é possível
Que basta acreditar
E que por mais trabalho que dê
Conseguimos dar a volta
Vamos misturando cores
Nesta palete chamada vida
Nem tudo é fácil
Ou pelo menos não tão fácil como gostaríamos
Mas entre uma pincelada e outra
Vamos vivendo
Da maneira que podemos
Da maneira que sabemos
Mas nada de meios termos
Nada de cinzentos
Apenas cores
Ou pelo menos 
Branco e preto
Sem reticências
Apenas certezas
Porque o quadro é só um
É este que vamos pintando
Á medida que o tempo passa
E antes que a tinta acabe
Vamos terminá-lo
Vamos viver em paz e com muito amor

Carlos Santana

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Tempo





Tempo
Uma coisa tão preciosa
Mas que ninguém dá valor
É algo que verdadeiramente damos
E que nunca recuperamos
Porque para trás ninguém anda
E o tempo passado
Não volta
Não é recuperado
Já foi gasto 
Já foi usado
Bem ou mal
Não volta
Tudo depende de como foi vivido
Uma palavra não ocupa  tempo
Não para quem a diz
Mas sabe tão bem a quem a escuta
O tempo pára
Parece que se prolonga eternamente
O tempo é vida
Desde que somos gerados
Até que a vela se apaga
E passa muito depressa
Por isso aproveitar ao máximo
Fazer cada segundo contar
Fazer do nosso tempo
O tempo do outro
E conseguir dar isso de nós
Uma só palavra
Um só sorriso
Apenas um pouco de tempo

Carlos Santana

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Por mim chamaste





Por mim chamaste
Por ti eu vim
Desci à terra 
Ou será que subi?
Transformei-me
Abdiquei das asas
Rabinho pontiagudo de lado
E agora aqui estou
Homem 
De carne e osso
Outrora anjo
Ou quem sabe demónio
Mas tudo passou
Cresci
Evoluí
Mais calmo
Mais sereno
Mais vivido
Mais eu
Apenas eu
Um eu que sabe o que quer
Que sabe como quer
A viver um dia de cada vez
Disponível para ti
Quando quiseres
Como quiseres
Porque foi por ti que mudei
E graças a ti 
A minha vida mudou
Mudou para melhor
Muito melhor

Carlos Santana

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

De olhos fechados





De olhos fechados
Sinto-te
De olhos fechados
Desejo-te
De olhos fechados 
Quero-te
De olhos fechados
Sonho a nossa vida
Porque é de olhos fechados
Que entro no mundo dos sonhos
Onde fico mais tempo junto a ti
Que é quando tudo posso
De olhos fechados
Revivo momentos passados
Aqueles momentos tão únicos
Tão nossos
Tão intensos
Que voltava a repetir vezes sem conta
De olhos fechados
Ando às cegas
Mas com rumo certo
Sei para onde vou
Para onde quero ir
De olhos fechados
Aumento os outros sentidos
Sinto o teu perfume
Acaricio a tua pele
Escuto a tua voz
De olhos fechados
Nunca os tive tão abertos

Carlos Santana

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Viva o agora





Viva o agora
Mas intensamente
Como aquilo que realmente é 
Aquela coisa maravilhosa 
Que não sabemos explicar
Mas que temos que aproveitar
Estamos de pé
Respiramos
Ainda somos alguém
E podemos fazer algo pelos outros
O ontem já passou há muito tempo
E há duas horas atrás
Já não conseguimos lá ir
O que foi feito
Feito está
É este exacto momento 
Que temos que agradecer
Que temos que viver
A vida é magia
Em constante movimento
Ora estamos aqui
Ora desaparecemos para sempre
São balões de várias cores
Que vão rebentando ao longo da viagem
Temos que os agarrar bem
E aproveitá-los a todos
Até o último rebentar
A vida é uma festa
Uma viagem linda
Que tem muito para ver 
Muito para viver
É por isso que temos que viver o agora
E temos que o viver já

Carlos Santana

domingo, 7 de outubro de 2018

Há coisas que fazemos





Há coisas que fazemos
Só porque sim
Só porque podemos
Só porque queremos
Não medimos consequências
Nem nos importamos com isso
Somos novamente crianças
Imortais
Feitos de aço
Nada nos toca
Nada nos afeta
Nada nos aleija
Abrimos os braços
E somos aviões
Saltamos muros
Trepamos a  árvores
Fruta por lavar
Pés descalços
Somos apenas nós
Depois crescemos e tudo acaba
Tudo não
Que eu não cresci
Recuso-me a crescer
Uma eterna criança
Que vai habitando 
Uma carcaça que envelhece
Sou imortal
Sou sincero
Sou verdadeiro
Sou apenas eu
Alguém que se entrega
Que mergulha de cabeça
Sem ver o fundo 
Sem ver o fim

Carlos Santana

sábado, 6 de outubro de 2018

Hora de acordar





Hora de acordar
De levantar
De enfrentar mais um dia
Pés descalços
Prontos para tudo
Com determinação
Com muito querer
Um sonho para realizar
E com esta vontade imensa
O mundo a nossos pés
Tudo podemos
Para tal, basta querer
Tirar as mão dos bolsos
Podem ser passos curtos
Mas passos que sabem para onde vão
Sabem o que têm que fazer
Percorrer esse mundo
Que de tão grande que é
Por vezes parece bem pequeno
E é aí que entra o sonho
Num pulo atravessamos um oceano
Mudamos de continente
Saltamos estações
Hoje outono
Amanhã primavera
Hoje eu
Amanhã tu
Porque neste enorme querer
Neste delicioso saber
O mundo descansa aos nossos pés

Carlos Santana

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Outono





Outono
Dias mais curtos
Mais amenos
Em que caem os primeiros orvalhos
Em que ficamos sentados
Apenas a olhar
Aquele sentimento de paz
De não haver pressa para nada
Observamos o que está à nossa volta
As primeiras folhas que caem
Um misto de tudo
Paletes de cores
Verdes e amarelos
Os animais à solta
E nós ali
A meio da vida
A meio de tudo
Pensamos sem pensar
Sabemos que o fizemos
Mas não sabemos em quê
Como um carregar de baterias
Descansar a alma
Preparar para o inverno que se aproxima
A caminhada sobre as folhas secas
Aquele crepitar típico
Mas que nos dá uma certa calma
Um certo alívio
Como se o pior já tivesse passado
Que daqui em diante será tudo melhor
Tudo vivido mais intensamente
Com mais sabedoria
Com mais entrega
Com muito mais amor

Carlos Santana

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Fumo





Fumo
Sombras
Realidade
Ou apenas ilusão
Formas disformes
A coluna que se ergue no ar
Que nos faz imaginar
Que nos faz ver coisas
Está lá
Ou nunca esteve
Mas no meio desta fumaça
Consigo vislumbrar-te
Cabeça erguida
Cabelos ao vento
Braços abertos
Imaginação minha
Ou a certeza de que olhas por mim
De que estás aí
Vejo os contornos do teu corpo
Esse corpo que quero junto a mim
E por entre essa neblina
Eu sinto-te
Não me perguntes como
Nem sequer porquê
Não sei explicar
Como se fosse um jogo de espelhos
Mas estás aqui
Sonho ou realidade
Não sei
Já tudo se mistura
Só sei que te vejo
Com estes olhos que te querem
Com esta alma que te sente

Carlos Santana

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

E o tempo passa





E o tempo passa
Oh como passa
Hoje somos carne
Amanhã somos nada
Escrevo agora
Para não esquecer amanhã
Recordo o ontem
Vivo o hoje
A vista cansada
Pés descalços
Alma limpa
Alma pura
Que vive contigo
Que está a teu lado
Que te tenta tocar
Que te tenta agarrar
Mas que só pode sentir
Saio de mim 
Para entrar em mim
Ossos sem vida
A que tu devolves a vida
Porque o mero pensamento de ti
Traz-me de volta à vida
Faz-me o sangue correr de novo
E esta vontade de escrever
De te escrever
E te descrever
Aumenta a cada dia
Temos que viver o agora
Hoje somos carne
Amanhã somos nada

Carlos Santana

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Beijo-te a mão





Beijo-te a mão
Como se te beijasse a alma
Com todo o respeito
Com todo o carinho
Beijo-te a mão
Sinto a tua pele
O teu perfume
Respiro fundo
Deixo-me levar para longe
Para onde só nós existimos
Longe de tudo
Longe de todos
Onde és só minha
Onde nada mais importa
Um mundo só nosso
Onde trocámos votos
Onde trocámos alianças
Não como símbolo de posse
Mas de entendimento
De uma relação pura
Verdadeira
De tempos passados
De outras vidas
Que transportámos até ao dia de hoje
A continuação do que sempre vivemos
Vamos então para esse cantinho
Onde apenas existimos
Onde apenas vivemos
Felizes
Alegres
Amados

Carlos Santana